Como se há-de haver o senhor do engenho com os seus escravos (cap. IX):
«Os escravos são as mãos e os pés do senhor do engenho, porque sem eles, no Brasil, não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda nem ter engenho corrente. E do modo com que se há com eles depende tê-los bons ou maus para o serviço. Por isso, é necessário comprar cada ano algumas peças e reparti-las pelos partidos, roças, serrarias e barcas. E porque comumente são de nações diversas e uns mais boçais que outros e de forças muito diferentes, se há-de fazer a repartição com reparo e escolha e não às cegas.
Os que vêm para o Brasil são Ardas, Minas, Congos, de São Tomé, de Angola, de Cabo Verde e alguns de Moçambique, que vêm nas naus da Índia. Os Ardas e Minas são robustos. Os de Cabo Verde e São Tomé são mais fracos. Os de Angola, criados em Luanda, são mais capazes de aprender ofícios mecânicos que os das outras partes já nomeadas. Entre os Congos há também alguns bastantemente industriosos e bons, não somente para o serviço da cana, mas para as oficinas e para o meneio da casa.
Uns chegam ao Brasil muito rudes e muito fechados e assim continuam por toda a vida. Outros em poucos anos saem ladinos e espertos, assim para aprenderem a doutrina cristã, como para buscarem modo de passar a vida e para se lhes encomendar um barco, para levarem recados e fazerem qualquer diligência das que costumam ordinariamente ocorrer.»
André João Antonil, Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas, 1711
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